Ultimamente decidi entrar na onda da galera que não fala muito bem da cidade de São Paulo. Acho que todo jovem caiçara e levemente alternativo já teve o sonho de morar na capital em alguns episódios de rebeldia, e eu com certeza estou entre eles. Entenda, eu não sairia desse estado por nada, mas é interessante observar como a maturidade mata um pouco da romantização que a gente tem pela metrópole, depois de passar tanto tempo numa região culturalmente homogeneizada como a Baixada Santista, não precisa de muito pra deslumbrar a cabeça de um recém jovem-adulto que passou muito tempo na internet.
Mas, se eu tivesse que dar um grande crédito pra capital, seria a diversidade cultural que ela oferece. Ou, bem dizer, as consequências de ser o estado protagonista da economia nacional e um dos (senão o único) alvo de atrações do mundo afora. Tudo acontece em São Paulo, e não é a toa que todos os shows de algumas das minhas bandas internacionais favoritas aconteceram lá.
Ainda estava perto do final do ano de 2019 quando vi uma publicação da produtora que iam anunciar um show do TTNG aqui no Brasil. Admito que fui pego de surpresa; à essa altura eu havia tido a oportunidade de ir em pouquíssimos shows aqui no Brasil e não imaginaria que uma banda de nicho como essa pisaria em terras latino-americanas, pois não só iam tocar no Brasil como em alguns de nossos vizinhos, também. Aqui que entra a parte engraçada: eu sequer tinha ouvido uma música dessa banda, mas decidi comprar o ingresso mesmo assim. Claro, os conhecia de nome; sempre apareciam em alguns tópicos de discussão dos fóruns de música que eu frequentava, era bem recomendado pelo algoritmo do meu last.fm e eu tinha um ou dois amigos que curtiam a banda.
Vale lembrar que música deve ser uma das maiores paixões da minha vida, então nada mais justo que tentar me entregar ao máximo em qualquer função que eu poderia exercer o hobby além de apertar o botão de play no Spotify. Cravei na minha cabeça que eu iria em qualquer show que eu conseguisse pagar. Talvez eu não conhecesse a banda, mas naquele momento apenas enxerguei minha presença como uma oportunidade de experiência, então comecei a ouvi-los.
Em questão de 2 semanas eu já era um fã.
Seu primeiro disco, Animals, não saía da minha fila. Ouvia no ônibus pro trabalho, no trabalho, e no ônibus de volta pra casa. Imagino que perdi um pouco do elemento surpresa de conhecer a música direto no show (como foi o caso com o Amenra alguns meses depois, por exemplo), mas naquele momento gostaria de ter a segurança de que eu ia aproveitar pelo menos alguma coisa do show. E o que era uma dúvida virou a certeza de que eu iria pra uns melhores shows de 2020 (talvez perdendo para o Black Midi ou Converge que foram cancelados pelo Covid).
A rua em frente a Fabrique – casa de shows onde regularmente recebe artistas e bandas de nicho como essa, e da qual eu ja havia ido 2x – estava em seu estado mais familiar possível: jovens alternativos trajados de roupas monocromáticas que iam do branco ao preto, sentados no bar tentando descer o máximo de cerveja que conseguiam para não consumir os preços abusivos dentro da casa de show, vendedores ambulantes (dos quais vale manter em mente para um acontecimento mais a frente na história), etc. Nessa época eu não tinha muitos amigos que me acompanhavam nessas jornadas, então eu estava sozinho. Lembro que fiquei impressionado da casa estar relativamente cheia, até mesmo enquanto a banda de abertura, E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, tocava.
Não demorou muito pra eles aparecerem, e o público vibrou e aplaudiu com aquele calor brasileiro enquanto eles entraram no palco. Sem sombra de dúvidas, de todas as bandas internacionais que vi, Henry, vocalista da banda, foi um dos mais amigáveis. Sempre interagia com a platéia entre uma faixa e outra, e seu humor britânico era muito bem vindo. Algum dos pontos altos de suas interações com a platéia inclui a menção da venda camisetas piratas na entrada da casa (assim como havia mencionado anteriormente), e como ele se sentiu lisonjeado pelo esforço dos vendedores e uma ótima iniciativa. Um fato que me fugiu a atenção, mencionado recentemente por um amigo que conheci depois e que também estava no dia, foi que ele chegou a comprar uma das camisetas e vestido-a após o final do show.
Outra pérola inclui sua confissão de que estava incomodado com o cheiro do próprio suor, onde um rapaz que estava a minha frente – bem vestido, socialmente, aparentava ter saído do trabalho – prontamente sacou um desodorante de sua mochila e passou a frente para que a platéia pudesse entregá-lo e, na hora de devolver, o baterista teve a brilhante ideia de soar os tambores para o retorno triunfal do frasco roll-on de Rexona, arremessado pelo vocalista de volta ao dono. Que conseguiu pegar em cheio.
Chegando na marca da 11ª e última faixa do setlist, 26 Is Dancier Than 4, a banda se despedia do público, mas sem antes de Henry fazer questão de informar que eles ficariam após o show para interagir com a galera. Ícones da acessibilidade. Confesso que gostaria de ter ficado e trocado uma ideia com os caras, tirado uma foto ou outra, mas além da ansiedade social também precisava me preocupar com a viagem de 2 horas de volta pra casa. E já era tarde.