7. Nada como um Dia após o Outro Dia - Racionais MC's
Se eu fosse rastrear até onde começou minha paixão pela música, talvez devesse voltar para 2004. Lembro do meu irmão ter recebido, como presente do meu tio, este disco. Tinha quase certeza que aquele CD era original; o encarte estava perfeito, era um disco duplo e a gravura do CD chegava a ser texturizada ao toque, com a arte original de cada lado do álbum, Chora Agora e Ri Depois.
Em retrospecto, se eu soubesse o quanto ele seria importante pra mim, teria tido um pouco mais de cuidado ao guardá-lo. Ser fã de rap na minha familia já era padrão, não era difícil se encontrar nas letras do Mano Brown e a representação de como era nosso dia a dia nas periferias. É claro que eu tenho uma visão muito mais madura sobre o álbum agora, mas em 2004 eu tinha apenas 6 anos. A única coisa que me fazia escutá-lo todos os dias antes e depois de ir pra pré-escola era como eu era facilmente impressionado pelo linguajar explícita dos versos.
Assim como toda influência que marca nossa infância, revisitar esse disco na minha adolescência quando decidi me aprofundar na música - e, claro, acompanhado de toda angústia que essa fase nos traz - me fez perceber o quanto ele foi importante pra formar o meu caráter.
6. Is This It - The Strokes
Esse aqui tem uma história bacana, e também é onde começa minha saga pela rede social que gerou uma trupe de alternativos e pavimentou o caminho para sites mais mordeninhos como o Letterboxd. Eu não era estranho ao indie rock nos meados de 2013, já ouvia um pouco de Arctic Monkeys e Franz Ferdinand por introdução do meu primo, mas como o acesso a internet banda larga ainda não era uma realidade na minha residência, descobrir artistas por meio das interwebs só foi se tornou viável pra mim 2 anos depois. Mas foi em 2013, no início da minha adolescência, que eu fui descobrir a banda que apadrinhou os britânicos mencionados anteriormente.
Pode parecer ridículo, mas nessa época eu estava viciado em servidores "privados" (leia-se, piratas) de Habbo Hotel. Não lembro com clareza em qual deles, mas acabei conhecendo a minha primeira web-paixonite responsável por me fazer criar minha primeira conta no last.fm: a Sendy. Não só isso, mas ela também foi minha primeira amizade criada através da internet. Trocamos e-mail, Facebook etc. Tudo foi muito platônico, afinal ela morava na capital de Rondônia, a 3.040km de distância pra ser mais específico. O que me atraiu à Sendy foi a surpresa de encontrar a extensão da minha personalidade e meus interesses da época, em outra pessoa. Em especial, uma garota. Não demorou muito pra ela me fazer criar uma conta no site e ele trabalhar seu algoritmo, mas foi graças a ela que eu conheci The Strokes.
Em algum momento daquele ano nosso contato foi sumindo; ela já tava no último ano do ensino médio e precisava se preocupar com coisas mais importantes. Até onde eu sei, ela sumiu completamente da internet e não nos seguiamos em nenhuma das redes, perdemos todo o contato. Mas mesmo que isso tenha sido passageiro, esse álbum me acompanhou pelo resto da vida.
5. Deathconsciousness - Have a Nice Life
Pisando em águas perigosas agora. Minha trajetória naturalmente me levou até sites como Pitchfork e o canal do YouTube do Anthony Fantano. Se eu achava que Joy Division e Radiohead eram alternativos de mais para o contexto que eu vivia, os artistas que descobri graças a essa comunidade pareciam ser de outro mundo.
Isso tudo foi antes que eu pudesse pagar uma assinatura do Spotify, se esses dois me apresentavam mais bandas que eu pudesse sonhar que existiam, eles também me fizeram descobrir ferramentas de pirataria que guardo no meu coração com todo carinho, até hoje. Isso inclui softwares de compartilhamento direto de arquivos até fóruns e trackers de torrent privados da Rússia. Minha rotina de estudante desempregado se resumia em ouvir música estranha o dia todo, todos os dias. Inclusive, não demorou muito que dei de cara com esse clássico cult.
Se você consegue imaginar a mistura de depressão pura a-lá Joy Division misturado com produção extremamente de baixa qualidade e a reverberação de um bunker abandonado a metros dentro do chão, é este disco aqui. Toda a imagética e conceito de um álbum produzido por apenas 2 calvos de meia-idade não é algo que se passa batido e ele merece todo o reconhecimento que tem.
4. In Rainbows - Radiohead
Nada do que eu consiga escrever é digno do que esse álbum merece, mas eu amo ver como ele age como uma espécie de carta coringa na vida de algumas pessoas. Mesmo que ele seja um pioneiro pra galera que curte um rock triste, ironicamente, esse álbum me veio em uma fase da minha vida que eu estava descobrindo o amor pela primeira vez, junto também quando estava sob o efeito da ilusão de controle na fase em que eu me tornava um jovem adulto.
Estava namorando, tinha conseguido bolsa integral na faculdade logo após sair do ensino médio, estagiando. Eu era genuinamente feliz, e esse disco virou sinônimo disso pra mim. Você imaginaria que hoje, após a desilusão, eu enxergaria esse álbum de uma forma "agridoce", mas, pelo contrário, ele me faz lembrar que somos capazes de viver bons momentos de pura felicidade.
Calmaí que preciso secar o olho antes de seguir pro próximo.
3. Soundtracks for the Blind - Swans
Nenhuma outra banda consegue transformar o poço de incertezas e a mais profunda escuridão que habita dentro de um ser humano como Swans. Nenhuma. Vale notar que esse não é o meu álbum favorito da banda (The Seer tá lá em primeiro), mas, em termos de puro pico artistico e conceitual, este é um álbum que, em minha opinião, a banda nunca vai superar. O Soundtracks é resultado de uma colagem de diversas fitas e gravações acumuladas pela banda num período de mais de 15 anos.
Assim como o nome já deixa implícito, é uma trilha sonora cacófona de gravações de campo, entrevistas e melodias que penetram até o fundo da alma. Um ponto alto e recomendação deste álbum é How They Suffer, onde está presente 2 gravações de Michael Gira conversando com seu pai, que estava ficando cego por conta de um glaucoma, e Jarboe com sua mãe, internada num asilo por estar sofrendo de demência. A música, como descrita pelo própria vocalista, serve como um tributo para o pai e mãe de ambos, com o entendimento de que a sua geração já estava indo embora.
Esse não é um álbum que se deve escutar com tanta frequência e ele chega a ter mais de 2 horas de duração. Já que é uma trilha sonora, é mais fácil tratá-lo como um filme apenas para os seus ouvidos. Só não vá ouvi-lo as 20h de um domingo e fechar a noite com uma crise existencial. Confia em mim.
2. Station to Station - David Bowie
Bizarro pensar em como só fui virar fã do mestre muitos anos após sua morte. Mais bizarro ainda é perceber que o seu marco a influência na música consiste até hoje. Você já foi ouvir The Cure e pensou "Ah, então foi daqui que saiu Legião Urbana"? Eu pensei o mesmo do Bowie a respeito de literalmente qualquer artista de rock contemporâneo.
Tudo bem que Ziggy Stardust e Aladdin Sane foram grandes sucessos comerciais, mas foi neste álbum e na trilogia de Berlin que ele criou absurdos completamente à frente de seu tempo. Mesmo que no Station to Station lhe custasse sua sanidade mental vivendo a base de cocaína, leite e pimenta. Meu fanatismo por ele veio um pouco mais tarde na minha aventura pela música, e acho que isso me ajudou a apreciar as influências que compunham o álbum: krautrock, eletrônica, funk, soul, religião e até ocultismo.
Isso aqui é genial.
1. Stratosphere - Duster
Esse aqui eu não tenho a mínima capacidade pra escrever nem maturidade emocional pra explicar o que esse álbum me faz sentir. Pode voltar daqui uns anos que talvez o artigo esteja atualizado.