Como se não bastasse uma review em álbum noturno, decidi continuar a linha com o Common Era. Talvez eu faça disto uma série, dificilmente eu vá querer avaliar um álbum que, pra mim, não seja nota 10. Sim, o layout de cabeçalho copiado descaradamente do Pitchfork serve apenas para fins estéticos.
O Common Era me veio bem na época que eu tava começando a me aprofundar em música. Se você for ler meu post sobre álbuns que mudaram minha vida, na seção do Deathconsciousness eu explico como meu passatempo se resumia em ouvir música o dia inteiro. Na medida em que eu descobria novos gêneros (ou, sendo bem sincero, subgêneros de rock), vez ou outra apareciam flowcharts - fluxogramas - detalhando uma jornada através de artistas do gênero que você podia seguir de acordo com cada aspecto que você gostava.
O do showgaze deve ter sido o mais importante deles pra formação do meu gosto musical, até hoje. Mesmo que eu não ouvisse religiosamente todos os álbuns no chart, cada passo dado depois do Loveless era uma aventura nova em diversos artistas que inventavam maluquices em cima do gênero. E como eu estava em minha fase post-punk, não demorou muito pra eu cair no Common Era.
Até pros padrões dos entusiastas de música, Belong é uma dupla relativamente desconhecida. Apesar de terem ganhado uma espécie de cult following depois do seu debut October Language, Common Era não teve o mesmo recebimento pelos aficionados do primeiro álbum, nem na crítica especializada, como a Pitchfork. Enquanto October trabalhava com texturas e paisagens sonoras, Common optou por um caminho mais acessível, rítmico. Muito mais focado em vocais do que o seu antecessor, mesmo que reverberadas, distantes e indistinguiveis. Acredite em mim, ninguém tem as letras pra qualquer faixa deste disco, mas ainda é divertido tentar discernir o que está sendo falado.
Assim como o Untrue, meu apego por este álbum é completamente emocional. Você pode argumentar que ele pode não ter sido um marco igual seu antecessor, que não exercitou muito em cima do próprio gênero (mesmo que você consiga ouvir até krautrock aqui), ou que a percussão seja repetitiva (e ela realmente é), mas felizmente tenho direito as minhas próprias opiniões e sou completamente parcial e apaixonado por ele.
Quando você é adolescente, qualquer um de seus interesses pode virar a fundação da sua personalidade. E música, principalmente esse álbum, era uma das minhas nessa época. Mesmo que não passasse de pura angústia adolescente, aos 17 anos - no pico da rebeldia - me encontrava por muitas vezes ponderando sobre solidão e distanciamento, sempre acompanhado desse álbum e um fone de ouvido conectado no meu Galaxy Pocket, no trajeto à noite voltando da escola. Em paralelo a música, todos os aspectos da minha vida no momento em que eu vivia pareciam muito distantes de mim, fora do controle e difícil de entender, assim como quase todas as faixas no Common. Mesmo que estivesse rodeado de amigos, dificilmente me sentia confortável em conversar sobre meus conflitos e sentimentos internos, então lidava com tudo através da música. E apesar de ter melhorado muito nesse aspecto, continuo fazendo isso até hoje, mesmo que de forma um pouco mais saudável.
Para o meu eu do passado, Common Era era sinônimo de caminhadas noturnas e uma jovem mente confusa beirando a vida adulta. Agora, é sinônimo de boas memórias para uma mente mais evoluída, que divaga bastante sobre minha adolescência, percebendo como as coisas eram mais simples ao mesmo tempo em que sinto falta.
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